Revista Oficial do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente / UERJ
NESA Publicação oficial
ISSN: 2177-5281 (Online)
Relato de Caso | Imprimir ![]() Páginas 118 a 123 |
Autores: Flávia Vasconcelos Teixeira1; Lumma Rodrigues Olavo2; Neirice Rodrigues Alves de Vasconcelos3; Silvana Frota Vasconcelos4; Antônia Gabriela Aragão de Oliveira Macêdo5; Denise Tomaz Aguiar6; Eroteíde Leite de Pinho7 1. Graduação em Enfermagem pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Ex-Monitora do PET REDES DE ATENÇÃO/Rede Cegonha. Sobral, CE, Brasil Flávia Vasconcelos Teixeira Recebido em 05/05/2015 ![]() ![]() Descritores: Promoção da saúde, estado nutricional, adolescente.
Resumo:
INTRODUÇÃO
A adolescência compreende o período de idade entre 10 e 19 anos e corresponde a 25% da população brasileira1. Nesta fase ocorre a transição da infância para a idade adulta, onde acontecem alterações biológicas da puberdade e mudanças físicas, emocionais, sociais e psicológicas específicas da adolescência2. O consumo alimentar é influenciado por aspectos das condições de vida, como nível de renda, urbanização local e acesso à variabilidade de alimentos, incluindo também as características individualizadas de nível educacional, faixa etária e cultura alimentar familiar3. A alimentação saudável na adolescência, contribui para o adequado crescimento e desenvolvimento, bem como redução dos riscos de doenças relacionadas à má alimentação4. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), implantado em 1955, contribui para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem, o rendimento escolar dos estudantes e a formação de hábitos alimentares saudáveis, através da oferta da alimentação escolar e de ações de educação alimentar e nutricional5. Os estudantes passam mais de quatro horas por dia no ambiente escolar, fato que influencia nas escolhas alimentares. Através do convívio com amigos, nas lanchonetes (oferta de refrigerantes, salgadinhos, balas e chocolates) e alimentos levados de casa, onde competem com o cardápio oferecido nas escolas pelo (PNAE), a qualidade nutricional se torna ineficaz. Em diversos países do mundo a prevalência da obesidade em crianças e adolescentes tem aumentado, inclusive no Brasil, o que está fortemente relacionado a mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares, como o fácil acesso e o baixo custo de alimentos ricos em gorduras e açúcares6. A pressão dos grupos de amigos, da mídia em geral, dentre outros fatores, sendo estes os biológicos, psicológicos e familiares, a insatisfação corporal e o desejo por um corpo perfeito, favorece também que os adolescentes não se alimentem corretamente, aumentando o risco de transtornos alimentares (anorexia e bulimia). O sexo feminino representa 90% da população afetada e em países industrializados, onde a magreza é valorizada, o problema é mais prevalente7. As mudanças alimentares, em função da maior facilidade de acesso aos alimentos e ao sedentarismo, favoreceram o surgimento do desequilíbrio entre ingestão e gasto calórico. O excesso de peso também resulta do excedente de calorias consumidas e a desnutrição devido à ingestão insuficiente de proteína e micronutrientes8. Diante da prevalência de maus hábitos alimentares na adolescência, torna-se fundamental a implementação de novos programas de educação nutricional nas escolas e a consequente criação de um ambiente favorável à saúde e à promoção de práticas alimentares e estilo de vida saudáveis. Criação de estratégias para enfrentar os problemas alimentares e nutricionais, bem como a manifestação de doenças crônicas entre os adolescentes, como a obesidade e o diabetes, que têm grande impacto em saúde pública9,10. Desta forma, considerando a importância de hábitos alimentares saudáveis como estratégia de promoção da saúde para os adolescentes, este estudo teve como objetivo desenvolver ações de promoção de saúde, visando melhora na qualidade nutricional de um grupo de adolescentes. MÉTODOS O presente estudo trata de uma pesquisa-ação, na qual a participação das pessoas implicadas nos problemas foi de suma importância. A ideia de se trabalhar com essa perspectiva metodológica surgiu da intenção de contribuir para o melhor equacionamento do problema considerado como central na pesquisa, fazendo o levantamento de soluções e proposta de ações a fim de tornar mais evidente aos olhos dos interessados a natureza e a complexidade dos problemas.Trata-se, ainda, de um estudo com abordagem qualitativa, tendo enfoque na obtenção de dados descritivos mediante o contato direto do pesquisador com a situação objeto do estudo. A pesquisa foi realizada em uma instituição pública de ensino, localizada em Sobral, CE. Os sujeitos dessa pesquisa foram 26 adolescentes, sendo 22 homens e quatro mulheres, com faixa etária entre 13 e 15 anos, estudantes do 9º ano do ensino fundamental II, que estavam matriculados e frequentando regularmente a escola. A coleta de dados foi levantada através de um questionário junto ao público em questão e de intervenções a fim de averiguar os hábitos alimentares dos estudantes. O projeto de pesquisa foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em 04 de junho de 2014, sob o parecer nº 674.824. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, as ações foram desenvolvidas com o intuito de educar os jovens quanto à introdução de alimentos saudáveis em seu cardápio diário, além de fazê-los compreender os inúmeros benefícios de uma nutrição adequada para a qualidade de vida. Então, foi aplicado um questionário norteador, para averiguar os hábitos alimentares dos alunos. Em seguida, foi abordado o tema supracitado através de uma palestra em que os discentes esclareceram algumas dúvidas acerca de alimentação saudável, além da realização do Índice de Massa Corporal (IMC). Dentre os questionamentos feitos, buscou-se focar os seguintes tópicos: quantidade de refeições diárias; quantidade de frutas consumidas diariamente; como eles consideravam a alimentação e o corpo. Em relação ao número de refeições realizadas por dia, verificou-se que 16 dos entrevistados as efetuavam em um número inferior a quatro. Sendo que, apenas três alimentavam-se seis vezes ou mais ao dia. Ao serem indagados sobre o motivo de realizarem esse número de refeições, a maioria referiu não ter condições socioeconômicas suficientes, em contrapartida, outros afirmaram não sentirem a necessidade de aumentar o número de refeições. Em referência à ingestão diária de frutas, foi notória a precariedade, demonstrada por três que referiram não consumir qualquer fruta e apenas dois declararam consumir mais de três frutas diariamente. Contudo, foi relevante o número de adolescentes que referiram ingerir frutas na quantidade de uma a três vezes (21 estudantes). Foi explorado o motivo pelo qual eles consomem essa quantidade de frutas, sendo referido que a maioria preferia alimentos com alto teor calórico e ricos em gorduras e não frutas e verduras. No que concerne à opinião dos estudantes a forma como consideram sua alimentação, 16 estudantes afirmaram considerá-la adequada, todavia mostram-se relevantes os valores referentes àqueles que se opuseram a essa afirmação (10 estudantes). Os adolescentes que não julgam sua alimentação adequada dividiram-se da seguinte forma: aqueles que optam por alimentos ricos em açúcares e gorduras, mesmo sabendo os malefícios desses alimentos e cientes da importância da ingestão de alimentos saudáveis; e aqueles que afirmaram não saber ao certo que alimentos devem ser inseridos em sua dieta, bem como os tipos de alimentos considerados saudáveis. No tocante ao questionamento acerca da forma como consideravam seu corpo, mais da metade dos entrevistados afirmaram considerá-lo normal (14 estudantes), enquanto seis veem-se magros; cinco veem-se gordos e apenas um se vê obeso. Inicialmente foi pretendido avaliar os índices de obesidade, bem como avaliar a qualidade de vida do público-alvo, entretanto, os resultados mostraram-se opostos no condizente à presença alarmante de adolescentes acima do peso. Seis dos entrevistados estavam com baixo peso, mas foi observado que os indivíduos que se negaram a verificar o IMC, em sua maioria, aparentavam exibir peso acima dos padrões. A maioria (58%) dos demais se enquadraram nos padrões de normalidade, além dos 17% que apresentaram IMC acima 25 (acima do peso). Ressalta-se que dentre os 26 entrevistados, apenas doze consentiram em realizar o IMC. Verificou-se que o prevalente número de estudantes enquadrados no baixo peso, pode estar associado ao número de refeições diárias efetuadas, aos distúrbios metabólicos, bem como à má qualidade da alimentação, o que leva a um número relevante de indivíduos magros. Acredita-se, portanto, que há uma precariedade na educação acerca da temática, no que se refere aos meios que direcionam a uma qualidade de vida saudável, além da falta de conscientização daqueles que têm conhecimento. A escola desempenha relevante função neste caso, uma vez que, no referente à alimentação, poderia adequar seu cardápio, bem como proibir o comércio de alimentos gordurosos e ricos em açúcar. Ademais, buscou-se focar apenas a alimentação, mesmo sabendo que muitos outros são os meios de se adquirir uma qualidade de vida adequada, pois os entrevistados afirmaram ter um padrão de sono eficaz, bem como uma frequente prática de atividade física. Logo, após análise dos resultados foi elaborada a Tabela 1, elucidando o questionário: CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados do presente estudo mostram que mais da metade do público entrevistado efetuava quatro refeições diárias. Uma pequena parcela alimentava-se seis vezes ou mais. Quanto ao consumo de frutas na dieta, a maioria referiu ingerir uma a três frutas diariamente. É notável a preferência dos jovens por alimentos com alto teor calórico e rico em gorduras. As justificativas dadas por eles destacam Continuação da Tabela 1 as condições socioeconômicas e a carência de informações sobre malefícios da ingestão de certos alimentos. Percebeu-se a importância da vigilância nutricional para adolescentes em idade escolar, que atua como instrumento de avaliação e elaboração de medidas de intervenção, como a merenda escolar. Os hábitos alimentares, e consequentemente, o estado nutricional, têm como um de seus fatores condicionantes a situação socioeconômica da família na qual o adolescente está inserido. REFERÊNCIAS 1. Organização Mundial de Saúde (OMS). Estratégia global sobre dieta, atividade física e saúde. [acesso em: 10 de out de 2013]. Disponível em: http://www.who.int/hpr/qs.consultation.document.shtml. 2. 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