INTRODUÇÃO
A infecção pelo HPV é considerada o principal fator de risco para o câncer de colo de útero, o segundo mais incidente em mulheres a nível mundial, tendo maior incidência em países em desenvolvimento, como o Brasil
1. No mundo, em um ano, o HPV é responsável por aproximadamente 500 mil novos casos de neoplasia cervical
2.
Devido à alta incidência do HPV, suas vacinas profiláticas surgiram como uma eficaz prevenção à infecção viral, devendo ser preferencialmente realizadas antes do início da vida sexual, a fim de evitar o contato com o vírus antes da realização da vacina
3. Ressalta-se que na faixa etária entre 9 e 13 anos os pais ainda mantem o hábito de levar os filhos para tomar outras vacinas, além de que é nessa época da vida que a vacinação proporciona níveis de anticorpos muito mais altos que a imunidade natural produzida pela infecção do HPV
4.
A forma bivalente da vacina atua contra os sorotipos 16 e 18, enquanto a quadrivalente opera contra estes e as subespécies 6 e 11
5. Os sorotipos citados são responsáveis por 90% das verrugas, por 70% dos carcinomas e lesões précancerosas de alto grau, e 35-50% das lesões anogenitais de baixo grau
6.
A vacina atualmente adotada pelo Ministério da Saúde contra o HPV é a papilomavírus humano 6, 11, 16 e 18 (recombinante), sendo a quadrivalente que confere proteção contra o HPV de baixo risco oncogênico (HPV 6 e 11) e de alto risco (HPV 16 e 18)
4.
Assim, sabendo-se que as vacinas profiláticas contra o HPV são um dos principais fatores de proteção contra o desenvolvimento do câncer do colo de útero e doenças associadas ao HPV, e que a adolescência é a etapa de maior risco para infecção viral
3, o objetivo deste estudo foi avaliar o nível de conhecimento dos adolescentes acerca das vacinas contra o HPV.
OBJETIVO
Avaliar o nível de conhecimento dos adolescentes sobre as vacinas contra o HPV e determinar o número de jovens vacinados.
METODOLOGIA
Para que essa pesquisa ocorresse houve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí. Os dados obtidos permaneceram em absoluto sigilo e foram utilizados dentro das normas definidas pela Resolução CNS 466/12.
Esse foi um estudo transversal com duração de um ano (ano de 2015). A amostra foi composta pelos alunos regularmente matriculados no CAU (Colégio de Aplicação da UNIVALI), a partir do 6º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, abrangendo uma faixa etária entre os 11 e 18 anos. A coleta foi realizada após a assinatura pelos pais ou responsáveis de um Termo de consentimento livre e esclarecido, bem como da assinatura de um Termo Assentimento pelos adolescentes.
A coleta de dados foi feita a partir da aplicação de um questionário previamente aprovado pela coordenação do CAU através da assinatura do Termo de Anuência. A coordenação cedeu cerca de 10 minutos da aula de cada turma, no período de março a junho de 2015, onde o professor responsável pela turma permaneceu em sala durante a coleta de dados. O questionário foi composto por perguntas objetivas, como: “Você já ouviu falar sobre a vacina contra
o HPV?”, “Quem pode ser vacinado (homens, mulheres ou ambos)?”, “Você é vacinado?”. Além disso, este foi respondido individualmente. Posteriormente, os resultados obtidos foram computados, sendo excluídos aqueles que não estavam presentes no dia da coleta, que não assinaram o termo de assentimento ou que não foram autorizados pelos pais a participar. Além da análise descritiva, foi realizado o teste quiquadrado (X
2), utilizado para estabelecer homogeneidade das proporções e o nível de significância foi estabelecido de p<0,05.
RESULTADOS
Os resultados deste estudo foram obtidos a partir de questionários aplicados aos alunos do Ensino fundamental e médio do CAU. Foram incluídos 390 estudantes com idades entre 11 e 18 anos, onde 188 eram do sexo feminino (48,2%) e 202 eram do sexo masculino (51,7%). A idade média entre os adolescentes foi de 14,41 anos, sendo para o sexo feminino 14,39 e para o sexo masculino 14,44 anos.
O intuito do questionário foi avaliar o conhecimento dos adolescentes sobre a vacina contra o HPV, onde 86,9% afirmaram já ter ouvido falar sobre a vacina alguma vez, sendo que 94,1% deste total eram do sexo feminino e 80,2% do sexo masculino.
A população participante da pesquisa foi questionada sobre onde ou por quem ouviram falar sobre a vacina do HPV, e os dados estão expressos na Tabela 1. A fonte de informação mais indicada pelos estudantes foi a escola (34,8%), seguida da televisão (22,3%). Destaca-se ainda, que 13% dos jovens referiram nunca ter ouvido falar da vacina do HPV, desses, 40 eram do sexo masculino e 11 do sexo feminino. Na comparação entre os gêneros, o número de indivíduos do sexo masculino que nunca ouviu falar ou que não lembra é superior estatisticamente ao feminino, com p<0,05. Além disso, o número de alunas que se informou por médicos e pelos pais também é superior estatisticamente ao de alunos.

Na Tabela 2 pode-se analisar o conhecimento dos estudantes quanto quem pode ser vacinado contra o HPV. Constatou-se que 57,4% afirmaram que somente as mulheres podem ser vacinadas contra o HPV. Enquanto 39,2% responderam que ambos, homens e mulheres, podem ser vacinados.
A quantidade de estudantes já vacinados contra o HPV, com ao menos uma dose, está apresentada na Tabela 3. Do total dos adolescentes, 25,3% afirmaram terem sido vacinados por ao menos uma dose. Entre eles, 10 eram do sexo masculino e os 89 restantes eram do sexo feminino. Contudo, 21,7% adolescentes afirmaram não saber se já fizeram ou não a vacina. A diferença entre o número de vacinados entre o sexo feminino e masculino foi estatisticamente significativa, com p<0,05.

As perguntas restantes do questionário eram direcionadas somente para os jovens que já haviam realizado alguma dose da vacina, totalizando, portanto, 99 adolescentes. A Tabela 4 apresenta os dados referentes à quantidade de doses que os estudantes já receberam. Desses 99 jovens, 43,4% afirmaram ter tomado somente a primeira dose, 43,4% as duas doses e 10,10% referiram já ter tomado as 3 doses. A média de idade dos alunos na realização da primeira dose da vacina foi de 12,2 anos, sendo que a idade mínima encontrada foi 10 anos e a máxima 17 anos. Para as participantes do sexo feminino, a média de idade foi de 12,2 anos e para os do sexo masculino de 12,6 anos.
A Tabela 5 demonstra que a principal fonte de incentivo que levou os jovens a serem vacinados foram os pais, apontado por 45,4% dos 99 vacinados, seguido da escola (40,4%), e dos profissionais da saúde em terceiro lugar (10,1%).
DISCUSSÃO
Programas de educação para adolescentes são impor tantes na prevenção dos problemas específicos dessa fase da vida, como a infecção pelo HPV e outras DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e, para que sejam implementados, é necessário conhe cimento adequado
7. Assim, este presente estudo contou com a participação de 390 adolescentes, 188 do sexo feminino e 202 do sexo masculino, com idades entre 11 e 18 anos.
Em outros estudos relacionados com o conhecimento sobre HPV e suas vacinas, como o realizado no Piauí com 218 entrevistados, a faixa etária dos participantes foi entre 17 e 34 anos, sendo 78% do sexo feminino
8. No estudo feito em Ribeirão Preto a população foi composta por mulheres entre 17 e 19 anos
9 e um estudo realizado em uma universidade privada de Pernambuco, os participantes apresentavam uma idade entre 21 e 25 anos, sendo 65,7% do sexo feminino
10. Em contraste com estes estudos, este presente trabalho priorizou uma faixa etária mais precoce em virtude de que atualmente, os adolescentes jovens possuem prioridade na vacinação contra o HPV. Também é neste período da vida em que se dá o início da atividade sexual e o primeiro contato com DSTs, assim é fundamental o enfoque nesse grupo de adolescentes.
Em relação aos conhecimentos dos jovens sobre a vacina contra o HPV, 86,9% afirmaram já ter ouvido falar sobre a vacina. Enquanto que em outros estudos apenas 36% e 36,5% dos estudantes sabiam da existência da vacina
8, 10. De forma mais alarmante, num estudo realizado com 538 usuários do SUS, menos de 9% dos participantes referiram ter ouvido falar das vacinas contra o HPV
11. Percebe-se com isso uma grande divergência entre os resultados deste e de outros estudos. Tal fato pode ter ocorrido em decorrência de que os outros estudos foram realizados com indivíduos universitários e adultos e, estes, podem ter tido uma baixa aquisição de conhecimentos durante seu período escolar
8. A ausência de campanhas de conscientização sobre as consequências da infecção pelo HPV e vacinas direcionadas a essas faixas etárias também podem ser a causa do desconhecimento por esses grupos.
Verificou-se uma grande atuação da escola e da mídia na divulgação das vacinas contra o HPV, visto que 34,8% e 22,3% dos alunos, respectivamente, apontaram-nas como principais fontes de informação. O estudo supracitado com usuários do SUS encontrou a mídia como fonte de informação mais citada pelos participantes, sendo que este estudo não abrangia indivíduos escolares
11. Assim, é possível perceber que a mídia e, especialmente a escola no caso dos adolescentes, possuem fundamental importância na educação sexual e estímulo de atitudes preventivas por parte dos jovens.
Ainda sobre as fontes de informação referentes à vacina do HPV apontadas pelos jovens, quando as respostas foram comparadas entre os gêneros, destaca-se que um maior número de indivíduos masculinos afirmou nunca ter ouvido falar sobre a vacina contra o HPV. Além disso, as adolescentes referiram os médicos e os pais como principal fonte de informação numa frequência superior os do sexo masculino. Isto, pode ter ocorrido devido à constatação de que apenas 8,5% dos homens visitam um urologista anualmente enquanto 41,1% das mulheres visitam anualmente o ginecologista
10. Outra justificativa para tal fato poderia ser a de que as mães das adolescentes estariam mais atentas quanto ao câncer de colo de útero e, incentivariam assim, a procura mais precoce por ginecologistas
7.
Quando indagados sobre quem poderia receber a vacina contra o HPV (se somente mulheres, homens ou ambos), 57,4% afirmaram que somente as mulheres podem ser vacinadas, enquanto 39,2% responderam que ambos os gêneros podem ser vacinados. O alto índice para o equívoco, de que somente mulheres poderiam ser vacinadas, ocorreu provavelmente em decorrência da crescente difusão de informações referentes às consequências do HPV nas mulheres, como o câncer cervical. Além disso, o fato do SUS ter disponibilizado inicialmente a vacina somente para as adolescentes femininas
4 pode ter contribuído com o erro. Provavelmente, pelos mesmos motivos, acabou sendo demonstrado neste presente estudo que o sexo feminino está significativamente mais vacinado que o masculino, sendo que menos 5% dos adolescentes masculinos estão vacinados. Apesar disso, a vacinação de meninos e homens se justifica pelos efeitos benéficos na proteção contra as consequências da infecção e no processo de aceleração da proteção das mulheres
11. Portanto, é fundamental que os adolescentes masculinos tenham conhecimento sobre o vírus e suas formas de prevenção.
Dentre as 188 adolescentes entrevistadas, 47,3% declarou ter realizado pelo menos a primeira dose da vacina. O Ministério da Saúde teve como meta no ano de 2015 a vacinação de 80% do público-alvo (4,94 milhões), o que representa cerca de 3,95 milhões de meninas na faixa etária de 09 a 11 a anos de idade
4.
Dos 25,3% (99 jovens) que referiram ter realizado a vacina, 43,4% afirmaram ter tomado somente a primeira dose, 43,4% duas doses e 10,1% referiram já ter tomado as 3 doses. É fundamental que os adolescentes possuam consciência da importância da realização das três doses da vacina contra o HPV. Os profissionais de saúde envolvidos no processo de vacinação devem orientar adequadamente os jovens quanto à realização das doses e seus respectivos intervalos. O Ministério da Saúde previa inicialmente um esquema vacinal que consistia na administração de trêsdoses (0, 6 e 60 meses)
4, até o ano de 2017, em quepassou a adotar um esquema vacinal que consiste na administração de 2 doses (0 e 6 meses), mantendo-se um esquema de 3 doses (0, 2 e 6 meses) em indivíduos de ambos os sexos imunocomprometidos com idades entre 9 e 26 anos.
As 89 adolescentes femininas vacinadas obtiveram uma média de idade de 12,2 anos para a realização da primeira dose da vacina, sendo as idades mínima e máxima encontradas de 10 e 17 anos, respectivamente. De acordo com o Ministério da Saúde, a população alvo prioritária no ano de 2015 foram as meninas na faixa etária de 9 a 11 anos
4. Enquanto que no ano de 2017, a população alvo feminina passou a abranger meninas de 9 até 14 anos e também meninos, inicialmente com idades entre 12 e 13 anos, com esquema vacinal composto por 2 doses (0 e 6 meses).
Entre os 99 jovens vacinados, 45,4% referiram os pais como principal fonte de incentivo à vacinação e 40,4% referiram à escola. Assim, percebe-se novamente a escola como uma das principais fontes difusoras de informações e incentivos, ressaltando-se que o esclarecimento dos pais e responsáveis possui uma significativa influência na realização das vacinas pelos jovens. Em contrapartida, é possível destacar que o desconhecimento e a falta de esclarecimento por parte dos responsáveis pelo adolescente poderiam contribuir negativamente com a vacinação. Afinal, o uso da vacina depende não só da aceitação dos médicos, mas de toda sociedade, a qual pode esbarrar-se em problemas religiosos e morais os quais poderiam ser contornados através de campanhas que informem os riscos associados ao HPV e os benefícios da vacinação
13. Diante disso, torna-se indispensável que os profissionais da saúde, escola e mídias possuam um comportamento proativo na elaboração de campanhas e no combate aos diversos preconceitos sociais que possam dificultar o acesso dos jovens à vacinação.
Devido ao início da vida sexual e o grande risco de infecção, é imprescindível o esclarecimento dos adolescentes em relação à transmissão e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DST), especialmente o de infecções como o HPV, que podem ter consequências graves como o câncer cervical, de pênis, ânus e orofaringe
14. Além disso, é de fundamental importância a realização de campanhas que também englobem o público masculino, visto que, como demonstrado no presente estudo, estes apresentaram um nível de conhecimento inferior ao público feminino, parecendo não estar a par dos riscos de infecção e de sua ação como transmissor viral.
CONCLUSÃO
A maioria dos jovens já ouviu falar sobre a vacina, contudo menos da metade sabe que ambos os sexos podem ser vacinados. Aproximadamente metade das participantes femininas referiu ter realizado a vacina, enquanto somente 5% dos participantes masculinos relataram o mesmo. Além disso, a informação através de médicos foi citada principalmente pelo público feminino.
Constatou-se que o sexo masculino apresentou um nível de conhecimento inferior ao feminino. Dessa forma, as políticas em saúde devem abranger ambos os gêneros e ter o intuito de informar e tornar a população consciente sobre importância da vacinação contra o HPV.
NOTA DE AGRADECIMENTOS
Agradecemos à direção geral, aos professores e funcionários do Colégio de Aplicação da UNIVALI (CAU), aos pais e aos alunos envolvidos direta ou indiretamente na pesquisa.