Official website of the journal Adolescencia e Saude (Adolescence and Health Journal)

Autolesão na adolescência: Uma revisão de estudos clínicos psicanalíticos
(Self-harm in adolescence: A review of psychoanalytical clinical studies)

Authors: Fabiana Renata da Silva1, Eliana Marcello De Felice2
1Mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo e graduada em Psicologia pelo Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP, Brasil
2Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo e docente de graduação em Psicologia no Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP, Brasil
Keywords: adolescence, self-harm, psychoanalysis
Abstract

Self-harm refers to the act of intentionally causing injuries to oneself. Currently, there is a significant increase in cases of self-harm among adolescents treated in clinical, school, and public health settings. The objective of this study was to gather clinical studies involving adolescents who self-harm in order to gain an understanding of the phenomenon from a psychoanalytic perspective. A narrative literature review was conducted, based on a search of studies from the last 15 years in the Scielo and Google Scholar databases. These studies were written in Portuguese, containing discussions of clinical cases, analysis of reports or interviews, and analyzed from a psychoanalytic perspective. Based on these criteria, 18 publications were selected: nine discussions of clinical cases and nine analyses of reports or interviews conducted in schools, juvenile detention centers, or psychosocial care centers. From a psychoanalytic perspective, self-harm was approached in these studies as a symptom, operating as a drive discharge in the body faced with the impossibility of symbolization. Studies have suggested that self-harm can act as a response to traumatic experiences, as well as to conflicts in family relationships. Cultural, historical, and social factors related to adolescents’ modes of social integration in contemporary times were also highlighted. Regarding psychoanalytic work with self-harming patients, clinical listening and transference management were highlighted as fundamental resources. It was concluded that the psychoanalytic approach contributed to the understanding of self-harm in adolescence as a manifestation characterized by unconscious conflicts, psychological suffering, and cultural issues.

RESUMO

A autolesão refere-se ao ato de provocar ferimentos intencionais no próprio corpo. Atualmente, observa-se um aumento expressivo de casos de autolesão entre adolescentes atendidos em contextos clínicos, escolares e de saúde pública. O objetivo deste trabalho foi reunir estudos clínicos com adolescentes que se autolesionam, a fim de obter uma compreensão do fenômeno a partir da perspectiva psicanalítica. Foi realizada uma revisão narrativa da literatura, com base em uma pesquisa de trabalhos dos últimos 15 anos, nas bases de dados Scielo e Google Scholar, escritos em português, contendo discussão de casos clínicos, análise de relatos ou entrevistas, e analisados sob a perspectiva psicanalítica. A partir desses critérios, foram selecionadas 18 publicações, sendo 9 discussões de casos clínicos e 9 análises de relatos ou de entrevistas, realizados em instituições escolares, de internação socioeducativa ou centros de atenção psicossocial. A partir da perspectiva psicanalítica, a autolesão foi abordada nos trabalhos como um sintoma, operando como uma descarga pulsional no corpo diante da impossibilidade de simbolização. Estudos sugeriram que a autolesão pode atuar como resposta a experiências traumáticas, assim como a conflitos nas relações familiares. Fatores culturais, históricos e sociais também foram apontados, relacionados aos modos de inserção social dos adolescentes na contemporaneidade. Quanto ao trabalho psicanalítico com pacientes que se autolesionam, a escuta clínica e o manejo transferencial foram destacados como recursos fundamentais. Concluiu-se que a abordagem psicanalítica contribuiu para a compreensão da autolesão na adolescência como manifestação atravessada por conflitos inconscientes, sofrimentos psíquicos e questões culturais.